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A influência da metodologia BIM no Metaverso - Parte I

Nesta entrevista, dividida em dois capítulos, Rogério Lima, Diretor do Master Internacional em BIM Management, nos explica quais são as implicações do Metaverso para o setor da arquitetura, engenharia e construção civil e nos conta como podemos nos preparar para a transformação digital que atualmente acontece na indústria. Leia a entrevista abaixo e saiba mais.

Desde o momento em que Mark Zuckerberg mudou o nome do Facebook para Meta, a noção de Metaverso ganhou mais visibilidade. Poderia nos explicar o que é realmente o Metaverso e se existem outras empresas, à parte do Facebook, que já estejam trabalhando nesta ideia?  

O que significa Metaverso? Em traços gerais, é o ambiente ou universo, ou uma versão virtual do nosso ambiente real, completamente imersiva e compartilhada com outras pessoas. Nesse ambiente, as pessoas podem viver uma simulação do mundo real nos seus diversos aspectos, incluindo aspectos financeiros de mercado. O Facebook não foi o criador da noção de Metaverso. Na verdade, os especialistas dizem mesmo que Mark Zuckerberg chegou tarde, porque o termo “Metaverso” remonta à década de 90. O termo “Metaverso” surgiu pela primeira vez num romance intitulado Snow Crash escrito por Neal Stephenson, que conta a história de um entregador de pizza que entra nesse universo a que ele chama Metaverso. Dentro desse universo, esse entregador de pizza é um guerreiro. O livro desenvolve-se em torno dessa ideia. Livro que inspirou o Metaverso

Hoje em dia, podemos encontrar diversas soluções relacionadas com esta tecnologia. O Facebook é apenas uma delas. Em especial, há uma delas chamada Superworld, onde você pode comprar um terreno no metaverso. Imagine que, no metaverso, há um determinado espaço virtual que chamou a sua atenção por vários motivos: porque muita gente está passando por lá e interagindo de alguma forma, por exemplo. Como investidor, eu posso olhar para um ambiente desses e pensar que seria interessante montar um negócio lá, seja uma loja, um escritório, um cinema, ou um espaço para vender entradas para esse evento ao que todas as pessoas querem assistir.

Você se lembra daquelas sessões de cinemnos Estados Unidos em que os espectadores estão assistindo ao filme desde dentro do carro? No Metaverso, isso é perfeitamente possível. Portanto, eu posso entrar num espaço como o Superworld e comprar um terreno naquela plataforma do Metaverso que me chamou a atenção e fazer o projeto do meu empreendimento.

Unity também explora esta tecnologia há algum tempo com os seus softwares ligados ao desenvolvimento de videojogos. O mesmo acontece com a Unreal, uma grande empresa que desenvolve softwares ligados à renderização, como o Twinmotion.  A indústria dos videogames experimenta o Metaverso há muito tempo, não através desse nome, mas proporcionando aos usuários a mesma experiência imersiva e gerando a oportunidade de interagir com pessoas, comprar objetos ou fazer o seu avatar evoluir. E é uma indústria que está muito mais avançada do que a do cinema, da construção civil e do próprio Facebook. 

O que ainda não temos é algo como a internet atual, isto é, um padrão internacional que todos usem e onde diversas plataformas estejam conectadas para que as pessoas possam então navegar efetivamente, da mesma maneira como atualmente navegam com o browser. Isto é o que ainda precisa de tempo para ser produzido, embora o Facebook ultimamente esteja disponibilizando muita verba para esta tecnologia.

Há só uma chamada de atenção que queria fazer. Hoje em dia, é comum se falar de muitos Metaversos. Não existem muitos Metaversos, porque Metaverso é um conceito, uma forma de interação onde várias plataformas, vários softwares, trabalham com o mesmo conceito. É preciso corrigir a forma como lidamos com o termo, porque acontece a mesma coisa com BIM, é comum as pessoas falarem deste ou daquele software BIM. No entanto, BIM é um conceito, uma metodologia. O que existe são vários softwares que trabalham com essa metodologia.

Cidade Metaverso

Arquitetura e Metaverso, como influenciará o trabalho dos arquitetos e engenheiros?

Tal como no mundo real, no Metaverso eu posso comprar um terreno numa plataforma que me interessa como investidor, e desenvolver nele o meu projeto. Quem vai fazer esse projeto? Esse projeto vai ser feito por nós, arquitetos. Nós seremos os responsáveis por fazer o modelo que, dentro do Metaverso, vai simular a experiência que as pessoas têm no mundo real quando vão a uma loja, ao cinema ou a qualquer outro lugar. O que vai levar as pessoas a visitar o meu negócio? A arquitetura.

As pessoas vão ter interesse em entrar ali porque aquela arquitetura chama a atenção, tal como acontece numa avenida muito movimentada no mundo real. É preciso captar a atenção das pessoas e uma maneira de fazer isso é ter uma arquitetura interessante para que elas se sintam convidadas a entrar.

Com a arquitetura no Metaverso, ocorre exatamente o mesmo, mas com uma vantagem: no Metaverso não existem os limites físicos da gravidade, por exemplo. Você pode fazer uma arquitetura sem as amarras da física, mas não só; você pode ir muito mais além e conectar a marca do cliente que te contratou para fazer aquele prédio dentro de uma plataforma Metaverso ao edifício real, no mundo real, na leitura arquitetônica e na interação. Dado que, dentro de todo este contexto, também existe a internet das coisas, imagine que alguma “coisa” do edifício do mundo real se mexe; o mesmo poderia acontecer com o edifício virtual dentro do Metaverso e vice-versa.

Dessa maneira, os dois elementos, tanto o físico quanto o virtual, podem estar conectados de tal maneira que a pessoa que visita o edifício, seja no mundo real, seja no Metaverso, vai interagir com ele como se se tratasse de uma extensão de um ambiente em relação ao outro. O que isto quer dizer é que, há uma gama gigantesca de possibilidades de trabalho para engenheiros e arquitetos no metaverso,, visto que somos nós quem construiremos esse mundo. Aqui fora, no mundo real, nós construímos as cidades e os edifícios. Dentro do Metaverso, também: somos nós os que vamos construir as cidades e os edifícios.

Sobre o Metaverso na construção civil, o que já está presente neste ambiente?

Há uma empresa de uma área que não é da construção civil que já tem loja dentro do metaverso, que é a Nike. Nessa loja, você pode comprar sapatos para o seu avatar, assim como pode comprar para você. Se você quiser ter o mesmo sapato que o seu avatar, você pode comprá-lo na loja do Metaverso. Portanto, o Metaverso e o mundo real não são coisas separadas; elas se misturam.

Falando agora da construção civil. No Paraná, uma construtora lançou um edifício residencial com várias unidades residenciais, do modelo estúdio. Com a compra daquele edifício, você ganhava o mesmo edifício, o mesmo apartamento do mundo real, numa simulação no Metaverso. Para quê fazer isso? Qual é o interesse disto se as pessoas vão morar no edifício real e não no Metaverso? Uma aplicação muito interessante que esta construtora usou é que as pessoas que compraram o edifício podem entrar na plataforma do Metaverso e acompanhar o desenvolvimento real da obra. Portanto, imagine que você está em Barcelona, e comprou  aquele apartamento no Paraná porque a sua família é de lá. No entanto, desde Barcelona, quer ver como está a obra. Então você coloca os óculos, entra no Metaverso e visita à obra virtualmente. Do ponto de vista da construção, como o  Metaverso funciona é uma experiência muito interessante.

Cidade Metaverso 2

Como e onde se encaixa o BIM nesse contexto?

Ao falar do Metaverso, falamos de um ambiente tridimensional, logo, falamos de modelagem. BIM, por definição, é a modelagem da informação da construção. Portanto, os dois ambientes compartilham de base uma característica, o trabalho com modelagem, com 3D e com informação contida nos dois ambientes. Para gerar pagamentos, para gerar interações é preciso a  informação. A modelagem BIM dá o suporte para a construção desse ambiente e, nesse contexto, podemos falar não só do edifício, mas de toda a cidade. Podemos criar um gêmeo digital da cidade dentro do Metaverso para experimentar políticas públicas, planejamento urbano, para experimentar uma série de situações que a cidade precisa e seria extremamente complicado de simular no mundo real.

Podemos construir essas mesmas características da cidade real no ambiente virtual com a técnica a que chamamos Digital Twin e interagir com esse ambiente virtual tal como se ele fosse real. E também, trazer informações desse mundo virtual para o mundo real. Isto é parcialmente possível hoje em dia com Digital Twin. Porquê parcialmente? Porque ainda falta desenvolvimento tecnológico para que esta tecnologia esteja totalmente estendida a toda a indústria, mas pouco a pouco se vai desenvolvendo cada vez mais.

Um grande avanço é o fato de já se poder interligar e fazer uma conexão direta entre esses dois mundos, o espaço real e o espaço virtual, onde podemos experimentar coisas, fazer projetos e ver o seu impacto antes de trazê-los para o mundo real. O mesmo se pode dizer sobre a manutenção. Podemos instalar sensores no edifício real para que, ao acompanhar esse edifício durante determinando tempo, possamos trabalhar as ações preventivas.

Há também outra questão importante a mencionar, que é o projeto propriamente dito. Eu acredito que dentro de pouco tempo teremos softwares de modelagem imersiva. Há algum tempo,, as pessoas faziam o projeto em prancheta e tudo em 2D. Depois, surgiu o Autocad, e as pessoas começaram a fazer as mesmas coisas no CAD. Posteriormente, veio o software de modelagem BIM e as pessoas passaram a fazer modelos tridimensionais. No entanto, tudo isto ocorre ainda dentro da tela: eu estou aqui e a tela está lá. Eu mudei de vista, olhando em 2D, olhando em corte. Existe ainda uma separação gigantesca entre as pessoas e o que acontece no computador.

Mas, imagine, e se pudéssemos entrar efetivamente num ambiente de modelagem, entrar nessa tela toda branca onde podemos começar a criarNuma escala pequena, imagine que posso criar ambientes com a mão ou, para lembrar os velhos tempos, imagine que posso criar ambientes com o lápis, riscando numa mesa virtual. Quando eu chego a uma determinada definição, faço um risco e surge uma parede. Depois, coloco um teto e um piso. Tudo isto num ambiente tridimensional, tal como vemos o Tony Stark fazendo.

No entanto, num dado momento, surgem dúvidas: será que aquilo está pequeno, está alto, está demasiado baixo? Será que poderei ver o mar através dessa janela? O que faço para resolver estas dúvidas? O software transforma tudo isso em uma escala real e eu entro no prédio. Isto é algo análogo ao que fazemos já quando colocamos o bonequinho do Google Street View na rua.

Nesse momento, estou num ambiente de projetação, dentro do prédio. Não estou olhando à distância; eu posso olhar através dessa janela para descobrir se posso ver o que realmente queria. Se não conseguir, posso mover a janela, corrigir, melhorar o meu projeto estando dentro do prédio virtual. Tudo isto é denominado Modelagem Imersiva, um termo que eu criei eu mesmo.

Óculos VR no metaverso

Continuaremos essa conversa nas próximas semanas, fique atento para saber o que pensa o professor Rogério sobre o investimento inicial nesta tecnologia, como podemos nos preparar para esse futuro tecnológico e se o Metaverso caminha no sentido da união entre análises de GIS e BIMPrepare-se para o futuro com o nosso Master. Saiba mais aqui Master Internacional em BIM Management.

Autor: Rogerio Lima Diretor do Master Internacional em BIM Management Fundador e Diretor da RLIMA Arquitetura e Consultoria

Leia a parte II

 
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Autor

Zigurat Global Institute of Technology