Blog / BIM & Construction Management

Porque estamos fracassando em implantações do BIM e LEAN

Trabalhos evidenciando como as técnicas lean e BIM podem ser aplicadas a escritórios de projeto de arquitetura e engenharia, podem gerar melhoria da qualidade e redução de prazos e custos são encontrados com facilidade. (Manzione, 2006; Leusin, 2011; Sacks, Korb, Barak, 2018). Porém trabalhos que abordem especificamente o processo de implementação do lean design em escritórios de arquitetura, promovendo em seus processos a reduções de custos, prazos e melhorias do produto ainda são escassos. Acredita-se que esse seja um dos motivos que tem prejudicado uma maior utilização do lean design nesses escritórios. Além, é claro, de tornar mais lenta a implementação do BIM, pois ambos são processos de trabalhos que necessitam a implementação integrada (SACKS, KORB, BARAK, 2018). É dentro desse contexto que este artigo se insere. Executar um olhar sobre os motivos que estão prejudicando uma plena utilização do LEAN e BIM nas organizações.

O que a pesquisa literária nos retrata sobre os problemas para utilização do Lean e BIM


Como o Lean e o BIM atuam diretamente nos processos, esses passam a sofrer modificações, (LIKER, 2005). Mas, ao entender que a implementação do Lean e do BIM provocam profundas mudanças organizacionais, isso torna essa tarefa bem mais complexa, pois envolve a ruptura de paradigmas, principalmente funcionais e culturais (FREITAS, 2015). Baldam, Valle e Rozenfeld (2014) destacam essa complexidade, principalmente, ao entenderem que a implementação do Lean e também o BIM atravessa os departamentos e as fronteiras das organizações, podendo chegar na comunicação ou modo de trabalho, com os clientes, fornecedores e toda a cadeia produtiva. Problemas para a implementação dos ajustes nos processos têm-se tornado frequentes e um estudo baseado em empresas brasileiras mostrou que poucas têm formalizado e desenvolvido um modelo de gerenciamento do processo de inovação e de projetos, (RABECHINI, 2002). Outros fatores que estão relacionados ao fracasso das organizações, quando buscam redesenhar seus processos, segundo Macieira (2015), são: “falhas de comunicação; falta de patrocínio da alta administração; deixar de gerenciar o desempenho dos processos; falta de visão do processo de ponta-a-ponta; baixo engajamento das pessoas envolvidas; falta de medições financeiras”. Nas pesquisas realizadas nos bancos de dados, trabalhos relacionados a utilização prática das técnicas lean, sejam na execução da obra como também na fase de elaboração de projetos foram (e são) encontrados com facilidade, porém não foi encontrado na literatura trabalhos que abordassem o detalhamento dos procedimentos de implementação dessas técnicas em escritórios de projeto de arquitetura. Será que essa lacuna existente na literatura não reflete o estado insignificante, para não dizer inexistente, da adoção do lean por exemplo em escritórios de arquitetura, e a dificuldade desses na implementação do BIM? Mesmo reconhecendo-se todos os benefícios que estas metodologias de trabalho possam trazer.  Uma prática adotada, e que todavia não tem se mostrado eficaz, é que a simples cópia de procedimentos adotados por uma organização que teve sucesso anteriormente,  na implementação do lean e BIM, pode gerar insucessos e resultados insatisfatórios. Isso significa que a adoção do lean e também do BIM não pode ser entendida como a simples introdução de técnicas, de forma isolada (LIKER, CONVIS, 2013).

O BEP e o BIP


Atualmente muito se fala do BEP (BIM EXECUTION PLAN), um documento que acompanha os projetos em BIM e deve ser elaborado nas etapas iniciais de concepção de um empreendimento. O objetivo desse documento é organizar os processos do projeto, definindo metas, etapas e responsabilidades aos envolvidos no ciclo de vida do projeto, além de contar com informações sobre recursos e softwares a serem utilizados. Pressupõe-se que com a criação do BEP, o fluxo de trabalho se torna mais dinâmico e a comunicação entre os participantes se torna mais fluida. O BEP então especifica como os empresas devem trabalhar com o BIM, porem não especificam como as organizações chegam a esse estágio. Quais ações as organizações devem executar no sentido de adquirir maturidade  em seus processos para que venham a utilizar o BIM, e porque não dizer o Lean também, em toda a sua plenitude. A esse documento que especifica a “trilha” a ser seguida para a utilização do BIM, está se dando do nome de BIP (BIM Implementation Plan), que é um plano para instituir o BIM como novo paradigma numa organização, que envolve transformações em sua estrutura física, processos e cultura organizacional voltada à produção. Durante a implementação do BIM, será preciso estabelecer novos processos de trabalho e novas especificações a serem seguidas. É algo como uma reestruturação do manual de procedimentos da empresa, se ela tiver algum. Os novos processos e especificações têm uma característica típica do paradigma BIM: são flexíveis o suficiente para permitem adequações ao ambiente de cada novo empreendimento. Esses mesmos pensamentos, criação dos documentos BIP e BEP, podem ser estendidos a implementação do Lean. Existem dois horizontes de tempos a serem considerados; o primeiro que é o amadurecimento da organização na utilização dessas ferramentas e o segundo momento que a execução dos processos estabelecidos devido a incorporação dessas metodologias.

Considerações finais


A implementação do lean e também do BIM, exige abordagens específicas e como não poderia deixar de ser, a utilização de técnicas e ferramentas lean também durante esses trabalhos de implementação.  O conhecimento, análise e interpretação dessas técnicas e os benefícios que podem ser conseguidos, através das melhorias dos processos de projetos provocadas pela sua implementação, para as áreas de Arquitetura, deve ser objeto de atenção dos arquitetos, urbanistas, engenheiros e gestores de projetos. A importância e os resultados que podem ser obtidos com a implementação do lean e também do BIM, já  não são questionados, porém uma metodologia mostrando a “estrada” a ser seguida necessita ser elaborada, possibilitando à toda a equipe de projeto, o sucessos nos seus processos de implementação.

Referências Bibliográficas


WOMACK, James P., Jones, Daniel T., A Mentalidade Enxuta nas Empresas, Editora Campus, 1998. Liker, Feffrey K., O Modelo Toyota, Editora Bookman, 2005. Manzione, Leonardo, Estudo de Métodos de Planejamento do processo de projetos de Edifícios, São Paulo, 2006. Leusin, Sérgio, Gerenciamento e Coordenação de Projetos BIM, Editora Gem LTC, 2011. Sacks, Rafael; Korb, Samuel; Barak, Ronen. Building Lean, Building BIM. CRC Press. Edição do Kindle. BIM (2018) Freitas, Nathan Nogueira Freitas, Estruturação da implantação da gestão por processos: diagnóstico no conselho de arquitetura e urbanismo do brasil (cau/br), Brasília, 2015. Rabechini Jr, Roque; Carvalho, Marly Monteiro; Laurindo, Fernando josé Barbin Laurindo, Fatores críticos para implementação de gerenciamento por projetos: o caso de uma organização de pesquisa, Revista Produção V.12 n. 2 , 2002. Macieira, leandro jesus ,  Repensando a gestão por meio de processos, 2015, editora Elogroup. Liker, Jeffrey K.; Convis, Gary L., O modelo Toyota de Liderança Lean, Eeditora Bookman, 2013.   Autor: Heron Fábio Santos, Engenheiro Civil especialista em gerenciamento de projetos. Professor do Master Internacional em BIM Management e do Master Internacional em Gestão de Projetos na Construção.  
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Autor

Zigurat Global Institute of Technology